sábado, 31 de julho de 2010

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e chorei, em que era querida,
Pareçe-me que foi noutras esferas
Pareçe-me que foi numa outra vida

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esqueçida.

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida de um lago
E o meu rosto de monja de marfim

E as lagrimas que choro, branca e calma,
Ninguem as vê brotar dentro da alma!
Ninguem as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

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